Já aqui tenho partilhado desabafos sobre as nossas idas para as urgências com os miúdos. E porque há sempre um sentimento que me avassala à saída, tenho mesmo de desabafar sobre ele - a gratidão!
Corro sempre para as urgências a dizer – mentalmente – palavrões e a me questionar porque me está sempre a acontecer aquilo… Porque raio os rapazes apanham todas as viroses que há num raio de 100 km? Porque não conseguem ter apenas a garganta inflamada sem que acabe numa amigdalite? Porque não têm apenas constipações, em vez de bronquiolites? Porque, porque, porque?
Mas eis que chego ao hospital e levo "duas bofetadas" bem assentes (e bem dadas) da realidade. Tenho 2 rapazes saudáveis que têm episódios pontuais de coisas “normais” dos miúdos e da época. E depois há aquelas crianças que têm estes episódios, mas também têm deficiências e limitações que tornam tudo tão mais difícil. É nessas alturas que olho para os rapazes, olho para o céu e pisco o olho como quem diz “esquece lá tudo que disse, eu sou mesmo parva! E Obrigada.”
E depois há aqueles anjos de batas brancas.
Felizmente tenho encontrado médicos que conseguem fazer uma consulta de sorriso nos lábios e que tratam os meus meninos por “príncipes”. E atenção, estou a falar do SNS.
Nesta última visita ao hospital, o Martim aguardava por uma ecografia e na sala amontoavam-se crianças com vómitos, diarreias, cansadas, fracas e resistentes a beber aquele soro. Era um cenário deplorável. As mães desesperadas por não conseguirem dar o soro aos filhos faziam fila à porta do consultório a pedir alternativas aos médicos. Elas impacientes, os miúdos irritados, e um ambiente muito tenso.
Quando ao fim de 3 horas chega o resultado da ecografia, entrámos e fomos recebidos com um “olá príncipe”. “Olá príncipe” a sério? Como consegue? Com aquele caos à porta, esperei tudo menos sorrisos e palavras simpáticas. Enganei-me. Ouvimos as recomendações e no fim só lhe consegui dizer “Obrigada e lamento”. Perguntou-me porque lamentava. Expliquei que me sentia mal por estar a tomar o tempo deles com questões menos graves, mas que perante os sintomas que o Martim apresentava não sabia o que fazer. Voltou-me a sorrir e disse-me “fez muito bem vir, até porque eu própria estava com dúvidas sobre o que o Martim tinha e por isso pedi a ecografia. Mas obrigada mãe, é bom ter mães com essa sensibilidade”.
Sorri-lhe e despedi-me com “espero não voltar a vê-la em breve!”
Percebeu a ironia e devolveu-me o sorriso com “Eu também não, era muito bom sinal”