Experimentem fazer o bem
É o “dia das madrinhas” e eu ainda não tinha comprado nenhuma lembrança da praxe para lhes entregar. Fui de fugida ao centro. Procurei estacionamento, mas isto (sobretudo, por cá, na Semana Santa), é muito difícil. Vejo ao longe um arrumador de carros a fazer-me sinal. Penso “Raios, ainda por cima não tenho moedas”. Aceito, não aceito o lugar? Aceito! Esvazio da carteira todas as moedas que tenho e entrego-lhas. Quando as entrego percebo que, embora tenha aspeto de quem vai usar o dinheiro para comprar aquilo que será a sua morte, tinha um ar afável. Parecia inclusive envergonhado por estar naquela situação. Disse-lhe “se conseguir destrocar dinheiro, dou-te uma moeda quando regressar.” Sorriu-me e disse para levar um guarda-chuva porque ia precisar.
Corri ao centro. Comprei a prenda. Destroquei dinheiro e guardei uma moeda no bolso do casaco. Chovia muito quando regressei ao carro. O arrumador estava abrigado e não se dirigiu a mim para me cobrar a moeda. Abrandei ao passar por ele e chamei-o. Veio a correr, com um ar algo desconfiado. Entreguei-lhe a moeda. Ficou abismado a olhar para a moeda e sorriu. Sorriso meio confuso. Disse-lhe “eu tinha prometido”. Ainda a sorrir para a moeda, olhou para mim, apontou-me o dedo, abanava a cabeça em sinal de aprovação e de sorriso rasgado exclamou “tu cumpres as promessas! Obrigado.”
Cumpro. Cumpro sempre e acredito que tudo ficaria melhor se tentássemos, de vez em quando, fazer alguma coisa (por mais pequenina que fosse) que servisse de exemplo ou ajudasse a melhorar o dia de outra pessoa.
Façam o bem, sempre.