Num dos últimos textos que partilhei, antes do nascimento do Afonso, foi sobre a esperança que iria correr tudo bem. E, felizmente, correu. Partilho este momento porque embora o medo e a ansiedade sejam inevitáveis, é importante não esquecer que é essencial levar uma boa dose de esperança, fé, boa disposição e um robe em condições para a maternidade.
Na véspera do nascimento do Afonso tinha ido a uma consulta extra no hospital. Estava a 1 dia de completar as 40 semanas e era importante perceber se o rapaz estava decidido a sair por livre vontade ou íamos agendar o dia da desocupação. Embora estivesse tudo muito “maduro” ficou agendado o internamento para a semana seguinte.
Alguns dias a seguir à consulta fiquei com algumas contrações e algumas perdas de sangue. Decidi ir almoçar convenientemente à casa da mãe de maneira a garantir que ia ter recursos necessários para o caso de ter de começar a puxar logo nesse dia, e depois rumei ao hospital. Embora ainda não fosse nada de considerável, decidiram internar-me por causa do meu histórico de plaquetas. Perguntei se não podia ir antes para casa ou para os escadórios do Bom Jesus para acelerar o parto, mas delicadamente disseram que não. Era muito arriscado começar o trabalho de parto num sítio que não fosse no hospital. Preparam-me para ficar internada, ligaram para a ala de internamentos a confirmar o quarto e, nesse telefonema, ouvia a enfermeira a dizer repetidamente “esta mãe à mínima perda de sangue é para ir para o bloco, perceberam?!” Repetiu até ter a certeza que do outro lado tinha chegado a mensagem. Mas isso significou eu ouvir as vezes suficientes para pensar “caraças que isto vai piar fino!”. Respirei fundo e “desvalorizei” para não ficar ainda mais ansiosa. Vou para o quarto e deixo de ter contrações. “Raios, isto vai demorar. Mais valia ir para casa”. Passei o final de tarde e início da noite a fazer agachamentos, pedi a bola de pilates, andei em passo acelerado no quarto, tudo para tentar convencer o rapaz que estava na hora. Às 22h00 estava tudo igual. “Pronto, vou aproveitar para dormir e amanhã convenço as enfermeiras a deixarem-me ir subir vezes sem conta as escadas dos 5 andares do hospital. “
Eis que à 1h30 começam as dores nas costas. Vira para um lado, vira para outro… e não passam. Olha, tu queres ver que estou em trabalho de parto. Chamo a enfermeira, ela coloca-me as cintas e raios, as dores ficam de tal maneira fortes que dou por mim a suspirar um “dasseee que isto dói.” A enfermeira olha para aquelas folhinhas que saem do CTG e exclama “Hmm, nada de especial” Ao qual eu respondo “Como assim nada de especial?!? Olhe que este é o meu 3 parto e isto são contrações a sério.” “Nesse caso vou ter de a observar, posso?” Pergunta a enfermeira “Faz favor!!!” respondi-lhe. E eis que a enfermeira confirma que esta menina tinha toda razão. Estava em trabalho de parto com 6 cm de dilatação. Fiquei super feliz (nos intervalos das contrações. Porque durante as mesmas só dizia mal da minha vida), pegámos nas coisas e ala para o bloco de partos que se faz tarde.
Mal chego há já um anestesista à espera. Fico feliz e aliviada. Prepara tudo, mas antes de espetar aquela agulha com a sustância milagrosa exclama “Alto, tenho de ir ver o último hemograma”. E lá fico eu a mentalizar-me que podia não levar a epidural e a convencer-me que era capaz de aguentar um parto natural. Afinal, foi assim que a minha mãe nos teve. Se ela aguenta, eu também tenho de aguentar. Mas felizmente os valores eram suficientes e lá veio a injeção milagrosa.
Após a saída do anestesista sinto algo que parecia as águas a arrebentar… Mas não era. Era sangue. Fico com medo. Olho para o ecrã que nos monitoriza e vejo que o bebé esta bem (já sou pró nisso) e eu também me sinto bem, por isso calma, deve ser normal. A enfermeira examina-me e diz, vamos lá puxar. A sério? Já!
Começam os puxos as dores aumentavam e da minha boca só saiam comentários parvos aquele momento. Tinha dores e a enfermeira calmamente só dizia “excelente! Coloque-se na posição que quiser e puxe.” Eu sabia lá que posição queria. Eu só queria que ele nascesse rápido e bem. Mais 2 puxos e lá nasceu o Afonso.
A enfermeira despede-se dando-me os parabéns e eu só lhe peço, repetidamente, desculpa por todas as parvoíces que disse (acreditem foram muitas). “Que todos os partos fossem assim, com pessoas bem-dispostas”. Responde-me. Sorrio, e nunca mais durante o internamente vi aquela enfermeira. Parecia um anjo caído do céu.
Foi provavelmente das fases mais ansiosas que tenho memória, mas nós temos tanta sorte em ter um dos melhores serviços de obstetrícia do país, por isso a certeza de que só podia correr tudo bem foi uma constante e eu estou tão grata por ser uma sortuda.
O pós-parto dá pano para mangas, por isso, um dia mais tarde, partilharem esta fase tão delicada. Até lá, conto algumas aventuras e reações dos rapazes à chegada do Afonso.
Até já.