Jantar com a dura realidade da vida
Hoje, como na maior parte dos dias, o Dinis fez uma fita descomunal para jantar. Comida saudável? Nã, dispenso!
Como sempre, neste assunto não há margem para negociação… comes e calaste!
Mas ele tenta e, tenho de reconhecer, os seus dotes e argumentos para evitar a sopa têm sido cada vez mais criativos.
A maior parte das vezes ignoro as fitas e vou – lhe relembrando calmamente que escusa de dar tanto espectáculo para jantar porque eu é que mando, e as ordens são para abrir a boca, mastigar e engolir. Ponto final parágrafo!
Hoje, depois de ouvir e ver o Dinis, largos minutos, a arranjar desculpas e choradinho para não comer, perdi a calma. Sentei-o à mesa sem mimos e falinhas mansas e, num tom mais sério e audível, expliquei-lhe a sorte que tinha em ter comida na mesa. Ele ignorou-me. Disse-lhe que havia crianças a chorar com fome e não tinham nada para comer… Parou. Olhou para mim e perguntou-me:
- Nem sopa?
- Não Dinis, nem sopa – respondi-lhe
Podia ter parado por aí. Ele já estava sentado à mesa e mais calmo. Mas acrescentei.
- Sabes, algumas dessas crianças morrem à fome. E tu, nem valor dás à comida que te pomos todos os dias à mesa.
Olhou para mim de olhos arregalados. Estava assustado. Muito assustado.
Percebi que tinha percebido a mensagem. Mas ficou claramente assustado.
Momentaneamente arrependi-me de lhe ter revelado uma realidade tão presente e próxima deste mundo. Mas os nervos roubaram-me as palavras.
Talvez ainda seja muito pequenino para ter noção do como é dura esta realidade. Talvez deve-se tê-lo poupado a esta imagem de crianças a morrer à fome. Mas esta realidade existe e consciente ou inconscientemente ele compreendeu-a.